As Diferenças de Salário no Mercado de TI

Depois de quase ser apedrejado por este post que fala sobre diferença de salário no mercado de TI no Threads, eu percebi que muita, mas muita gente não entende como funciona e como se calcula a remuneração de um profissional de TI no mercado brasileiro e internacional.

O mercado de TI está entre os que mais crescem em qualquer lugar, com inúmeras oportunidades disponíveis, de fato, para indivíduos empregados nele. No entanto, uma pergunta frequentemente feita por alguns profissionais que estão apenas começando e mesmo por aqueles que têm mais experiência é: como o mesmo papel pode ter salários tão diferentes? Por exemplo, um programador júnior pode ganhar R$ 2.000 em uma empresa, mas receber R$ 6.000 em outra. E o mesmo vale para um desenvolvedor sênior. Por que alguém que trabalha em uma organização recebe apenas R$ 8.000, enquanto leva para casa R$ 30.000 ou até R$ 40.000 trabalhando em outro lugar?

A resposta não é facilmente alcançada e envolve uma série de fatores tanto econômicos quanto culturais ao longo da história de como a indústria em geral se desenvolveu. A resposta reside nos valores diferentes que cada empresa atribui à mesma posição. Apesar de alguma diferença entre empresas e até indústrias para pessoas que desempenham funções semelhantes, por que pode parecer tão diferente o valor atribuído por uma, enquanto outra foi deixada apenas com o nível salarial de pessoal júnior?

O que faz um programador júnior valer R$ 2.000 em uma empresa e R$ 6.000 em outra? Por que um desenvolvedor sênior ganha R$ 8.000 enquanto alguém com o mesmo título recebe trinta mil ou mais em outra empresa? A resposta é complexa, mas inclui fatores econômicos, culturais e empresariais.

Por que tanta diferença de salário?

Uma razão que justifica essas disparidades na remuneração é o valor gerado pelo profissional dentro da organização. Em outras palavras, uma empresa recompensa seus funcionários com base no quanto o trabalho deles contribui financeiramente para as receitas. Por exemplo, se uma empresa produz páginas da web simples e as vende por cerca de R$ 5.000 cada, não há como pagar R$ 20.000 pelo trabalho de um desenvolvedor, porque isso significaria ter que vender muitos sites de uma vez apenas para não operar no negativo - o que não pode acontecer, é claro, dadas as limitações de produtividade individual de qualquer pessoa.

Atualmente, um profissional pode ser altamente produtivo, mas ainda assim não ser recompensado, em grande parte por causa da capacidade de alcançar apenas alguns milhares em vendas ao longo de um período prolongado - uma proposta impraticável mesmo para ele.

Por outro lado, empresas que fabricam produtos com potencial para grandes lucros, como sistemas financeiros, aplicativos de inteligência artificial, plataformas SaaS altamente escaláveis ou grandes aplicativos que atingem milhões de usuários, podem oferecer salários mais altos. Nesses casos, o valor produzido por um desenvolvedor pode ser recuperado muitas vezes acima do custo salarial deles em dinheiro.

Outro fator direto que impacta o salário é o nível de complexidade e responsabilidade que vem de uma posição, sem diferença nos títulos. Por exemplo, o papel de um programador júnior pode ser muito diferente dependendo da empresa. Eles poderiam essencialmente fazer trabalho de correção de pequenos bugs e manutenção de sistemas legados em uma empresa, enquanto em outra - particularmente startups ou empresas extremamente inovadoras - eles poderiam ser responsáveis por criar produtos completamente novos ou funcionalidades de negócios estratégicas por si mesmos.

Essas discrepâncias não envolvem apenas diferenças no conteúdo técnico; na maioria das vezes, são de natureza estratégica também. Quanto mais o trabalho do profissional é vital para a estratégia de negócios, mais seu salário aumentará em uma situação de crescimento.

A importância de diferentes áreas de negócios

Em terceiro lugar, a natureza dos setores também tem um impacto significativo sobre a diferença de salário dos profissionais de TI. Indústrias que têm potencial de ganhar muito dinheiro - como a indústria financeira ou de saúde, por exemplo - pagam bem aos seus trabalhadores porque têm margens de lucro expressivas e podem se permitir investir pesadamente em recursos humanos.

Negócios baseados em inteligência artificial, blockchain e comércio eletrônico em grande escala são exemplos típicos desse tipo de negócio: enquanto ainda estão em seus estágios iniciais, precisam atrair talentos de outras ocupações de alta demanda, como medicina ou finanças, com dinheiro antes de conseguirem lucrar por si mesmos.

Como exemplo, considere um desenvolvedor especializado em inteligência artificial trabalhando para uma empresa financeira. Através de algoritmos de machine learning, ele pode trazer dezenas de milhões de reais por ano para a empresa na redução de custos, controle de fraudes e otimização de investimentos. Para um trabalho com uma taxa de retorno tão alta mensurável como este, os níveis salariais do profissional logicamente deveriam ser mais altos do que o usual.

Disparidades regionais e internacionais

A localização geográfica das empresas é outro fator relevante. No Brasil, por exemplo, grandes centros urbanos como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Curitiba têm salários relativamente mais altos porque o custo de vida é maior lá e mais empresas de tecnologia estão concentradas. Em cidades menores também, onde não há tanta concorrência e os custos de vida são mais baixos, os salários tendem a ser menores.

E quando olhamos para o cenário internacional, essas diferenças tornam-se ainda mais proeminentes: nos Estados Unidos, por exemplo, um programador sênior experiente pode facilmente ganhar mais de US$ 150.000 por ano em média, traduzindo-se em salários mensais muito superiores aos praticados no Brasil.

Na Europa, países como Alemanha e Holanda oferecem excelentes salários para desenvolvedores também, especialmente em áreas altamente especializadas como segurança digital e desenvolvimento mobile nativo. Essa diferença salarial internacional reflete não apenas diferenças nos custos de vida, mas, acima de tudo, o significado estratégico de um profissional de TI. Aos olhos das empresas nesses países, eles são vistos como um ativo essencial para o seu sucesso.

A capacidade de monetização do produto

No final, uma das razões mais fundamentais para as diferenças salariais é o quanto as receitas que os produtos de uma empresa são capazes de gerar. Quanto maior essa capacidade, mais disposta uma empresa estará a pagar por pessoal técnico qualificado em taxas significativamente acima das dos trabalhadores comuns em qualquer economia de mercado.

Empresas que criam produtos escaláveis, que podem ser vendidos para milhares ou até milhões de usuários com relativamente pouco acréscimo de custo, acham mais fácil oferecer salários altos. Por exemplo, startups dedicadas ao desenvolvimento de aplicativos móveis ou sites da Internet visitados por milhões de usuários pagantes todos os meses. Para cada funcionalidade produzida por seu trabalho, um programador em tais empresas pode gerar receita real e sustentável.

Conclusão

Um dos temas desta série é que a questão da diferença de salário do mercado de TI vai além de apenas comparar títulos de emprego. É necessário levar em conta o valor agregado pelo profissional, a complexidade e a quantidade de responsabilidade envolvida em seu trabalho, a capacidade financeira e estratégica da empresa, o setor industrial envolvido e até mesmo sua localização geográfica.

Em primeiro lugar, é aconselhável que trabalhadores do mercado de TI que buscam salários mais altos pensem não apenas em seus salários. Duas outras coisas importantes a considerar são a capacidade da empresa de converter esforços em receita e o papel do desenvolvedor na geração daquela receita. Além disso, com a crescente demanda por profissionais na área, uma empresa pode decidir - se tiver se dado ao trabalho de investir pensamento e dinheiro nessas pessoas e pagá-las salários mais altos - que isso vale a pena para o desenvolvimento futuro..

No entanto, as empresas e a indústria moderna podem perceber que, ao investir em técnicos qualificados que são bem pagos, não apenas garantem melhores resultados técnicos, mas também produzem produtos mais competitivos e, portanto, lucrativos. Mas, como vivemos em uma sociedade ultra liberal, que visa o lucro acima de tudo, ainda vemos que a maioria das empresas ainda prefere esmagar os custos com mão de obra, do que abrir mão de parte do lucro. Basta ver que grandes empresas como Microsoft, Google e Amazon fizeram muitos layoffs nos últimos anos, mesmo a empresa performando cada vez mais lucro. Mas essa conversa fica para um próximo artigo.